quarta-feira, 15 de junho de 2011

A Epístola de Filemon e a escravidão



A Epístola de Filemon como documento histórico, elenca sobre a consciência cristã a respeito da instituição escravidão, merecendo destaque a interpretação imperialista do pregador João Crisóstomo no século IV, um autor que trata Onésimo como um escravo fugitivo, lendo o texto como uma autorização para a escravidão. De acordo com esta exegese, é falado que “nós não devemos abandonar ou excluir a raça de escravos” e “que não devemos retirar escravos do serviço de seus senhores”. Em seus sermões...

a carta torna-se uma evidência da apologia bíblica da escravidão, interpretação que foi amplamente disseminada em muitos locais e eras. Temos como exemplo o puritano Cotton Mather que utilizou-se da leitura pró-escravidão de Crisóstomo aceitando a miséria da vida dos escravos na presente era, mas ao mesmo tempo insistindo que esforços deveriam ser feitos para assegurar aos escravos uma vida compensatória de recompensas, galardões no futuro. Para isso, ele preparou para os escravos um catecismo, favoreceu também o ensino da leitura da Bíblia sugerindo que eles “decorassem certos versículos particulares das Escrituras onde estavam as várias ordens de Paulo para que os escravos obedecessem a seus senhores. De acordo com Mather, Paulo teria feito de Onésimo um escravo “útil”. Esta leitura tornou-se dominante na América do Norte, onde a escravidão tornara-se fundamental na política econômica dos colonizadores. Resumindo, esta epistola servia como um “mandato paulino” da escravidão norte-americana. 

O colonialismo interno que fundou os Estados Unidos pode ser definido como um colonialismo de uma cor. O colonialismo norte-americano era branco, inclusive era a cor que os europeus haviam usado para identificarem a si próprios sobre aqueles que a quem colonizaram/subordinaram. Este projeto colonialista também pode ser entendido como um movimento de imigrantes europeus em direção a uma base de terra não sendo de formação européia eliminando e ou deslocando os nativos. O colonialismo branco tem como característica os colonizadores fixarem residência, ou seja, o deslocamento dos indígenas se não são completos certamente são permanentes, a invasão por certo é uma estrutura e não apenas um acontecimento.Um dos elementos desta estrutura é um colonizador branco dominador sobre um colonizado não-branco dominado.Certamente os colonizadores brancos também utilizavam de violência para coagir o colono ao regime de submissão.As colônias tendiam a importar o trabalho para atender as necessidades ao mesmo tempo que assegurava mão de obra explorada. Esta importação em massa de africanos como escravos é um sinal do colonialismo norte americano, sendo o legado da escravidão norte americano um sinal característico dos Estados Unidos no período pós colonial.
Uma possível leitura pós-colonial de Filemon, seria uma leitura evangélica libertadora, não podendo ser pós-colonial do sentido de “neocolonialismo”, mas deve se caracterizar por ser anticolonialista, não compactuando com práticas de exploração e injustiça.Como uma alternativa anticolonial, um relato diferente, que é o relato de Paulo, organizador de comunidades de Jesus que faz um apelo à solidariedade em vez de uma afirmação da diferença fundamental entra as pessoas, procurando afirmar, conservar e proteger essa solidariedade que numa palavra é o amor, o tema que unifica a carta. Ele mostra como Paulo baseia seus apelos na dívida e não no direito e porque seu relacionamento é de solidariedade e não de reivindicações de direitos, não há momento nenhum de coação, e nem de centralidade de posições ou títulos. Paulo fala sobre solidariedade que une as várias pessoas mencionadas na carta, ele fala dessa solidariedade com a linguagem do amor.
Presb. Davince Storch

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