sexta-feira, 11 de março de 2011

Exílio nos dias atuais




Lamentações 1:3

Uma teologia que simplesmente observa os fatos como expectadora e não apresenta respostas á realidade humana é demasiadamente irrelevante, pois não gera mudanças e nem cria novas oportunidades. Um labor teológico divorciado da prática certamente redundará em uma ortodoxia morta, que não servirá como voz profética em meio a realidade atual que necessita de direção, de consolo e transformação.

Ao examinar a situação da América Latina por exemplo, desde tempos mais remotos até a atualidade, é notório uma espécie de exílio, sendo que uma característica marcante é o exílio em “domicílio” ou seja,  os povos latino-americanos são exilados em sua própria pátria.

A condição de exílio leva a uma reflexão profunda a respeito da condição humana e implica também em uma busca por respostas e solução para a geração que clama diante dos desafios que se apresentam. 

Ainda em relação a situação latino-americana podem ser apontados os principais grupos que sofrem opressão: a mulher negra, a mulher indígena, a mulher trabalhadora, os negros em geral, os pobres, os imigrantes entre outros tantos.

O conceito de exílio necessita ser melhor elaborado, pois em inúmeras situações seu significado se limita as deportações para uma terra estranha, quando na verdade exílio pode ser sinônimo de opressão na própria pátria, como citado anteriormente em relação as exilados na América Latina.

Muitos foram os exílios que aconteceram na história, alguns deles narrados nos textos bíblicos, com destaque para o exílio babilônico, pois as narrativas em relação a este evento são de uma riqueza singular assim como os ensinamentos que podem ser extraídos. Momentos de crise podem significar o fim definitivo de algo, ou também inaugurar um novo momento.

Os sofrimentos, dores, utopias e esperanças que permeiam a vida de exílio na Babilônia se relacionam a realidades também do aqui e agora, ou seja, muitos dos desafios que são narrados naquele momento não estão distantes da atualidade, parece até “coincidência de fatos e problemas”. Vale ressaltar, no entanto, que a teologia não convém ignorar o contexto em que está inserida, cada momento possui suas particularidades, suas questões, mas é possível sim fazer paralelos históricos, até mesmo para que a teologia não seja apenas mais um discurso irrelevante, num mundo já tão marcado por filosofias e pluralismos.

Pensar na condição de exílio é também uma busca pelo resgate da liberdade, tão almejada pelo ser humano, e que sofreu tantos ataques no decorrer dos séculos. Pensar em um novo êxodo é possível, afinal o fim almejado por aqueles que estão exilados é o êxodo, sair do estado de deportação e também mudar a situação de opressão.  

A leitura bíblica a partir do exílio cria um senso de responsabilidade teológica em relação a diferentes temas, também sociais, considerando a realidade humana de forma integral, fugindo da perspectiva dualista que separa temas espirituais dos “seculares”; e além desta responsabilidade gera esperança, afinal os exílios não são eternos. 

A leitura exílica portanto, revela a frágil situação humana, aponta profeticamente a responsabilidade teológica no que tange os problemas e crises sociais e por fim traz alento e esperança aos corações.     
Presb. Davince Storch

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